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"Nem todas as histórias têm de ser de rejeição" disse o pai de um dos 33 menores que já mudaram de sexo

Foto: reprodução/Paulo Alexandrino/Global Imagens

António Vale é pai de um jovem transexual e tornou-se ativista. O filho mudou de nome este ano, mal fez 16.

António Vale viu nascer uma filha há 16 anos, mas não foi preciso muito tempo para perceber que "era uma criança insatisfeita". Foi há um ano que o agora filho lhe pediu que o tratasse por João (nome fictício). Aos 57 anos, o pai descomplica, ajuda e até se tornou um ativista da causa LGBTI. "Nem todas as histórias de transexuais têm que ser feitas de rejeição". O filho mudou há semanas o nome e o sexo no registo civil.

A família já tinha marcado o 6 de junho para ir à conservatória mudar todos os documentos de João. Foi nesse dia que fez 16 anos. A pandemia atrasou, mas a mudança aconteceu em julho. O pai, que se juntou à associação Amplos, viveu tudo com tranquilidade. "Aos quatro anos, ele já queria ser um rapaz. Pedia para cortar o cabelo. Só usava a parte de baixo do fato de banho. Nunca quis usar vestidos nem saias, usava roupas de super-heróis", conta António, que hoje está separado da mãe de João. "Mas há 12 anos, a questão da transexualidade não era tão falada, nunca associámos".

Tentativa de suicídio

Ao longo dos anos, João travou várias lutas que os pais foram tentando entender. "Em criança, ele automutilava-se. Chegámos a ir um psicólogo", relata o pai. Mas foi só no 3.º Ciclo que tudo se foi tornando mais evidente. "Ele tornou-se ativista da causa LGBTI. Trazia para casa a bandeira. Começou a vestir-se de forma diferente". Chegou a tentar o suicídio. Mas só há cerca de um ano, tinha João 15, é que pai e filho tiveram a conversa. António tem a data marcada na memória: "Foi a 27 de junho. Ele veio tentar falar comigo e eu puxei o assunto. Não percebia se era lésbica ou se era um rapaz. Nessa noite, conversámos tudo. E no dia seguinte, falou com a mãe". Na família, tudo foi vivido com muita abertura. A própria avó paterna, com 86 anos, deu-lhe a mão.

António tinha acabado de perder um filho de dois anos quando João lhe contou. "Isto não era nenhuma perda. Não perdi nada em relação a ele. A partir do momento em que começou a mudar de roupa e cortou o cabelo, tornou-se vaidoso e passou a ter mais interesse pela vida".

Só hoje sabe que o filho foi vítima de discriminação por professores: "Para mim, foi muito complicado saber depois. Mesmo com os colegas, houve rejeição de alguns". No Secundário, João já assumiu o nome masculino, o despacho do Governo que obriga as escolas a respeitarem a identidade de género dos alunos facilitou. "Perante a sociedade, ele já é um rapaz. Mas sei que vai ser um processo doloroso."

Fonte: Via JN

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